sexta-feira, 1 de julho de 2011

AS COMIDAS DA PRAIA


As comidas da praia sabem de outra maneira. E quando eramos miudos...
As praias da minha infância foram as praias da Costa da Caparica, principalmente as quase selvagens, antes da Fonte da Telha, onde se chegava por um comboio aberto, ou atolando o carro na areia da mata.
Eram praias fantásticas, antes da chegada dos Coconuts e dos Waikikis.
E as comidas da praia...não há palavras. Quando vinha o homem dos gelados, a berrar òfrutóchclate, é geladolá! a nossa vida renascia. Os homens que vinham da Costa com a mala dos gelados às costas até áquelas praias, completamente vestidos de branco, eram verdadeiros herois. Caminhavam 5 ou 6 Kms pela praia, debaixo de um Sol escaldante, para nos trazerem os nossos geladinhos, de laranja ou ananás, porque, geralmente, os de chocolate esgotavam-se antes de chegarem tão longe.
Num ombro traziam a mala dos gelados e no outro o saco com línguas da sogra e com as batatas fritas. Também havia uns que traziam bolacha americana (ou melhor, amaricana)
Eu gostava dos gelados, mas as batatas fritas é que me levavam ao céu. Porque as batatas fritas da praia têm um sabor diferente. Acho que é por apanharem tanto calor, o óleo que há nelas vem todo ao de cima. É como a nata do leite... e depois quando se mastigavam as batatas da praia sempre se mastigavam também alguns grãos de areia, o que aumentava a magia. A gente pensava, "mas se eu tirei a batata agora do pacote, como é que ela já tem areia?" Era um mistério.
Também havia a senhora dos bolos de pastelaria. Era ainda mais bonita do que o senhor dos gelados, apesar de eu não costumar comer bolos com tanta assiduidade. Os meus pais já tinham alguma noção de que bolos com creme toda a tarde ao sol não devia ser grande coisa para a saúde. E ainda não havia ASAE...
A senhora dos bolos era sempre velhinha, mas não muito. Vinha vestida com uma bata branca, tipo enfermeira, descalça e com uma grande caixa de bolos à cabeça, que ela equilibrava sem a a ajuda das mãos. Quando se abria a porta, a caixa exibia lá dentro uma série de tabuleiros, que se puxavam como gavetas, onde apareciam os bolinhos arrumados por categorias.
Nessas praias não havia homens das bolas de berlim, esses só entraram na minha vida mais tarde, no Algarve.
Além da comida vendida na praia, havia a comida do farnel. As sandes de ovo mexido, as mistas com alface e tomate, as de carne assada. Era sempre o meu pai que as fazia, porque costumava levantar-se mais cedo que a minha mãe.
E tudo sabia bem na praia, as bananas moles ao final da tarde, os sumos quentes...
Aqui ficam as imagens das célebres batatas fritas Pala Pala e o catálogo dos gelados Olá de 1982, para se lembrarem como era.



5 comentários:

Anónimo disse...

Querida Feridas
o cenário que acabaste de descrever é totalmente certo e correct, só que essas cenas passavam se na praia da Nazaré.
Que saudades desses tempos que já lá vão !
beijos
AC

Calos disse...

Quando era muito pequena, mesmo muito, lembro-me de um dia na praia com os meus avós paternos (Os Fernandos - A Nanda e o Nando!), que geralmente era ao Domingo e do farnel brutal que eles levavam. Como verdadeira malta do norte, faziam altas refeições, que transportavam na inevitável geleira (era mais que uma!), em plena areia da praia.
Ele era frango assado, arroz, panados, fruta, vinho, a batata pala-pala (lá está!) e até salada de tomate. E pensam que comiamos sentados na toalha de pernas à chinês?! Na! Levavamos mesa, cadeiras, pratos de plastico, talheres e copos...
Para qualquer criança...era o paraiso!!!!!

E quem se lembra do prazer que dava, no fim de 3 horas ao banho, sentar embrulado na toalha a comer pão com fiambre e a beber um leitinho achocolatado? Parece que foi ontem....

Adorei este cromo...

Deriva disse...

Isso é que era preparação. Eu realmente cheguei a ver na Nazaré velhotes com isso tudo e ainda mais, uma vez vi uns com um alguidar para lavar tachos e pratos...
Cromos da praia...dava para muitos...que bons tempos.

teacher disse...

Dear friends:
a praia da Nazaré faz parte do meu imaginário desde que nasci e o leque de memórias é extenso...ir lá um mês antes e calcorrear as ruinhas estreitas à procura da casa para alugar, o paposseco com manteiga logo de manhã e o cheiro das marés baixas, as marés vivas no final de Agosto, tomar banho em pijama no último dia de férias, os namoricos de praia que ficavam enterrados na areia até ao Verão seguinte, os bolos e as bolachas "amaricanas" que ainda se cá vendem mas já não têm o mesmo gosto...e continuo a achar que as sestas na areia, com o cheiro e o barulho do mar, areia quente, e o burburinho de quem lá está, são as melhores sestas da vida.

Maria Gabriela Dias disse...

Cara "Calos", esse panorama é mesmo TÍPICO das pessoas da ALDEIA! Litoral ou interior, o que é normal é que quanto mais antigas as pessoas e de hábitos mais ultrapassados, ou "fechados", é que situações dessas ainda hoje se vêem em determinadas praias Portuguesas! Eu posso dizer que nasci e cresci no Norte do país, desde MUITO CEDO me habituei a fazer as minhas férias na praia (por acaso até sonhei que tinha vista para ela esta noite, como se fosse possível ter um alcance de visão de 400km e ainda por cima na diagonal, calculem só as saudades que tenho da praia e daquela terra linda que é Sesimbra) e nunca, mas NUNCA levava farnel de "levar para a mesa" para a praia! Frango assado? Salada? Quando muito, de fruta e em doses individuais, para comer o quanto antes, não fosse apanhar sol e estragar-se... mas mais valia um pesseguinho "de roer", inteiro, mesmo que a casca incomode! Para beber, era groselha ou capilé, nada de leite chocolatado. De vez em quando, um iogurte bem fresquinho também era bom. E para rematar... duas sandesinhas: ou de ovo mexido, ou de chourição e queijo, ou (ainda melhor) de carne assada, partida como fiambre, quase! Eu é que pedia o recheio. Manteiga no pão, só de manhã! E ainda digo mais...uamos a seguir ao pequeno almoço, estávamos lá todo o dia e só voltávamos após quase toda a gente se ir embora (ou seja, por volta das 7) Ali não havia perigo de apanhar sol a mais, havia entretenimento o dia todo e não saíamos à hora de almoço para voltar à tarde... quando saíamos era para estar noutro sítio, também muito relaxante, e aí sim, fazia-se algo mais substancial porque não havia nem mar nem piscina... e actualmente está tudo urbanizado (mal habitado, parece uma povoação fantasma no meio do nada, mas o facto é que urbanizaram daquele outrora espaço arborizado).
E com isto tudo, o que quero dizer é que nem todas as "pessoas do Norte" levam tachos e panelas para a praia; apenas aquelas com "mentalidade e educação típica das aldeias", que se dão muito a religiosidades por dá cá aquela palha e que decoram as casas como se ainda vivessem nos anos 80. (Muitos arrebiques e arreboques, móveis do estilo "tal", cristais aqui e ali, rendas e rendinhas em tudo quanto é canto e sítio...) É por isso que não creio que os seus avós vivessem na mesma terra que eu (ou pelo menos, não fossem das mesmas origens). Até lhe dou um exemplo, se for a Matosinhos, ou a Leça, encontra muita gente a fazer praia sem levar a cozinha atrás; se for a S. Bartolomeu do Mar, em dia de festa, vê toda a gente vestida, na praia, de banquinhos, mini-fogões, tendinhas minúsculas e claro... o almoço! Ah... E posso gostar muito de Sesimbra, mas para mim, as melhores batatas são as da minha terra! (ou melhor dizendo, da terra do meu pai) - são ainda do pacotinho de papel, com o carimbinho à mão... e por vezes calha de encontrar uma mais grossa. Caseiro mais caseiro do que isto... NÃO HÁ!