quarta-feira, 17 de novembro de 2010

PADRE MESSIAS


Antes de qualquer outra consideração, queremos deixar aqui bem claro que o facto de o Padre Messias ser o primeiro cromo da nossa caderneta não quer dizer que pretendamos, de forma alguma, apelidar o Sr. Padre Messias de cromo, antes nutrimos por ele profunda admiração e respeito, não só pela sua provecta idade, mas pela pessoa que é, pela forma como sempre se dedicou aos mindericos e a Minde.
Os cromos que colamos na nossa caderneta, este e todos os que se seguirem, dizem respeito às recordações de infância e adolescência que em nós deixaram pessoas e situações. E da mesma forma todos os cromos que se seguirem.


E posto isto…
O Padre Messias foi durante quase toda a nossa vida “O Padre”. Não é estranho, porque até aos trinta e tal anos nunca nenhum de nós conheceu outro. É que acontece quando se é pároco de uma paróquia durante mais de cinquenta anos. Quer isto dizer que baptizou, deu a Primeira Comunhão, a Profissão de Fé, casou, baptizou os filhos e enterrou muita gente, assim, do principio até ao fim.
Apesar de ter sido uma pessoa polémica durante o seu presbitério (ena!...) o padre Messias é recordado por todos com carinho.
E o que é que recordamos do Padre Messias?
- que era uma pessoa sem pescoço, ou seja, tinha a cabeça redonda colada directamente nos ombros;
-Andava sempre de cabeção e casaco preto, a não ser nos passeios da catequese, em que vestia uma camisa de manga curta e todos nós estranhávamos.
- Tinha uma caligrafia muito bonita, com que preenchia os diplomas de Primeira Comunhão, Profissão de Fé e Crisma, mas ninguém a conseguia ler porque parecia uma página passada por um monge copista do século XIII;
- Tinha entoações tão próprias a dizer a missa, que quando íamos à missa noutra igreja nos parecia que aquilo não estava a ser bem dito;
- Tinha uma forma de confessar que toda a gente sabia de cor.
Gostaria de desenvolver um pouco esta ideia: meu filho (minha filha) a nossa confissão deve versar sobre três aspectos: nós e Deus, nós e os outros, nós e nós mesmos. Nós e Deus: tens faltado à missa? Tens faltado à catequese? Rezas todos os dias? Nós e os outros: tens aborrecidos os teus paizinhos? Tens estudado as tuas lições? Tens faltado ao respeito aos teus paizinhos, aos teus professores, à tua catequista? Tens sido amigo dos teus colegas lá na escola? Nós e nós mesmo: tens sido preguiçoso? Andas aprumado? Tens tido outros comportamentos… enfim… menos próprios de um bom cristão? (nesta parte eu nunca sabia bem o que ele queria dizer, mas dizia que sim à mesma para não deixar nenhum pecado desconhecido por elencar).
E nós lá íamos dizendo que sim e que não com a cabeça, porque ele não nos dava oportunidade de abrir a boca… No final mandava-nos rezar umas 10 avé-marias e pronto. Eram as confissões mais fáceis do mundo. Assim uma espécie de teste com cruzinhas, este fiz, este não fiz…, já está.
Outra coisa extraordinária do padre Messias é que teve a capacidade de nunca envelhecer. Ainda agora, quando vem ocasionalmente vem a Minde, me parece igualzinho ao que sempre o conheci. Mas a recordação mais penosa de todas é, sem dúvida, os “avisos”. Os avisos vinham no final da missa, mesmo naquela altura em que o nosso estômago começava a fazer barulho com fome, à espera do almoço. E entre reuniões do Movimento Esperança e Vida e do Apostolado da Oração, lá se iam mais 15 minutos, bem medidos.
Bem haja, Sr. Padre Messias, Deus lhe dê o céu, onde repouse por uma feliz eternidade.

4 comentários:

Feridas disse...

Senhor Wolfinho, a hora já está acertada. Muito agradecidas, pode vir buscar a mine à nossa redacção

Deriva disse...

e enquanto fazia o inquérito confessional ia mexendo nas nossas mãos, que estavam em posição nossa senhora...nunca achei muita piada a este pormenor. Realmente nunca me esqueci dos 3 planos que referia, com deus, ou outros e nós. Mas para falar de cromos, e batendo na mesma tecla eclesiastica, acho que o padre Mário dava um excelente cromo, tal como a D. Conceição, and so on and so on

Calos disse...

Sim! Sim! Precisamos de ideias!

wolfinho disse...

Lá irei.