terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Marruas










Luís Pedro Ferreira Branco, mais conhecido por Marruas (terra natal de seu pai) era, nos anos 80 o verdadeiro terror das ruas de Minde. Este catraio conseguia ter uma imaginação sem concorrentes no que diz respeito a asneiras, travessuras e ruindades que pudessem, eventualmente ser concretizadas, fazendo com que, quando comparados consigo, os irmãos Barrabéus pareçam uns autênticos meninos de coro.

Marruas não era do estilo “chefe de gang”, não. Ele trabalhava sozinho. Até porque não era fácil alguém alinhar nas suas travessuras. Ele era o verdadeiro Huckleberry Finn minderico, e quando o Marruas aparecia, todos tremiam, pois nunca se sabia o que podia acontecer: poderiam levar tareia sem razão aparente, ficar sem aquela bola nova que a mãe lhes deu nos anos ou mesmo participar na melhor brincadeira da tarde. Ser amigo do Marruas era um estatuto e uma espécie de escudo protector intra-planetário. Eu própria cheguei a ser amiga do Marruas num período em que ele jogava á bola na praça 14 de Agosto, onde eu morava, com o seu habitual fato de treino azul escuro com riscas brancas (lembram-se?) mas essa amizade, de que eu muito me orgulhava, só durou até ao dia em que ele me resolveu “chamar nomes”. Foi a primeira vez, de muitas ao longo da vida, em que percebi como os homens podem ser insensíveis e ingratos.

O rol de disparates do Marruas é astucioso e variado. Ele corria pelos telhados do Alto Pina (Sim, pelos telhados!), qual Hulk minderico, partindo telhas e enlouquecendo as velhotas que saíam às portas a protestar; ele roubava a burra ao Zé Galdino e ia nela “cabrar” para a mata; ele fazia a vida negra ao Benjamim das beatas (lembram-se? Aquele que fumava beatas do chão?), entrava pela sua casa (casa ou casebre?) e fazia-lhe todo tipo de torturas. O Marruas tinha o chamado ”Mapa da Fruta”, onde descrevia a localização e as épocas da melhor oferta frutícola de Minde, com o intuito de a roubar, obviamente! Mas o disparate de oiro do Marruas talvez fosse mesmo o “Rebenta Galinhas” que não era uma brincadeira mas sim um acto de tortura e massacre. Esta atrocidade consistia em enfiar uma bomba de ar de bicicleta no ânus do animal e bombear até esta rebentar. (Ok. Vou dar um minuto para vocês se recomporem…Esta não é fácil.)

Era assim o Marruas.
Hoje é um pai extremoso e um marido exemplar. Parabéns Marruas e obrigado por apimentares a nossa infância.

3 comentários:

Feridas disse...

Em relação às galinhas havia uma variante: colocar bombinhas de carnaval no mesmo sítio. O efeito era mais espectacular.
Atenção, eu nunca vi, mas acho que faz parte da lenda...

Anónimo disse...

Havia um parecido, ou melhor dois...o Augusto e o Russo.

Um abraço
Bastard

Rui Carvalho disse...

Grande Marruas, todos os dias tinha pais de meninos descontentes á sua porta...
Grande Marruas, todos os dias levava porrada da mãe...
Grande Marruas, que na escola trancou um elevador comigo e vai daí conselho directivo....
Grande Marruas, que era o terror do Toinos dos porcos, nosso chaufeur da carrinha do CEF...
Grande Marruas, o verdadeiro anarquista minderico...
Grande Marruas, agora tão sossegadinho...