terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CONVERSAS DE RAPARIGAS - IV

Esta conversa de raparigas é real. Passou-se entre a minha avó, que faz 90 anos no mês que vem (e que dá todo um novo conteudo à palavra "rabiteza") e a cunhada dela, alguns anos mais nova. Devo dizer, para ilustrar a conversa, que estas duas velhotas, ambas actualmente viúvas, passaram toda a sua vida juntas. Foram sócias de uma fábrica de malhas onde ambas trabalhavam lado a lado na mesa de corte, construiram duas casas rigorosamente iguais, mobiladas exactamente da mesma maneira, mas uma do lado direito e a outra do lado esquerdo, como se as casas se estivem permanentemente a olhar ao espelho. Hoje partilham as longas horas do dia, as idas ao mercado, à missa, ao cemitério. Penso que nenhuma delas nunca teve outro conceito de "melhor amiga", apesar de se tratarem por você e por "cnhada" (não falta um u na palavra, é mesmo cnhada)
Pois, um dia a minha mãe foi a Roma, ver o Papa, e decidiu levar as duas velhotas. Estavam numa excitação que não se podiam conter, penso que era a primeira vez que ambas andavam de avião.
Quando me fui despedir delas, estavam ambas no banco de trás do carro, nervosissimas, pareciam duas crianças, aos risinhos, com os seus casacos compridos muito compostos, as malinhas de mão e os caracois acabadinhos de sair dos rolos, rígidos de laca.
A minha tia exibia, orgulhosa, um verniz cor de rosa nas unhas. Meti-me com ela "Então, tia, vai toda bonita, unhas pintadas e tudo!" Resposta: "Ah, vê lá tu... já dsserem hoje umas p´às outras, qusará ist hoije?". Referia-se às unhas.
Antológico.

1 comentário:

teacher disse...

Bem, tu és uma perita a escrever mindrico!!
Está muito boa, esta tua crónica.