sexta-feira, 31 de maio de 2013

GIRASSOL

Vivia do sol, como uma planta.Ficava horas de olhos fechados, na varanda, a face voltada para o sol, descalça e com as palmas das mãos abertas, como se estivesse a fazer uma fotossíntese emocional. Acordava com o nascer do sol e deitava-se no ocaso. Dormia mais no Inverno que no Verão. O cabelo caia-lhe no Outorno e voltava a nascer na Primavera. Quando os dias invernosos se prolongavam, começa a definhar, olhava pela janela ansiosa, como quem espera um soldado da guerra.
Mas quando a Primavera entrava, a vida regressava-lhe aos ossos, sentia como seiva a percorre-la, as pontas dos dedos ficavam-lhe dormentes, como quem tivesse estado muito tempo quieta e fialmente se mexesse.
Nessas alturas cantava ou subia uma serra e gritava muito alto, como se parisse um filho.
Saía para os jardins e deitava-se na relva, de cara para baixo, para cheirar a terra e deixar que o sol lhe aquecesse a coluna.
Foi nese jardim que o conheceu. Foi na Primavera que ele chegou. Os encontros foram breves e nem por isso muito intensos, mas ela sentiu que a regavam, que a podavam e a atavam a uma estaca para finalmente crescer direita.
Com os primeiros ventos ele foi-se, mas ela esperou-o no jardim.
Esperou-o ao sol, ao por do sol e durante a noite. Esperou-o quando veio o vento e levou as folhas das árvores.
Esperou-o durante todo o Inverno.
E quando a Primavera chegou, ele veio, mas ela já tinha criado raízes, tinha-se entregue finalmente à sua existencia vegetal. Dos cotovelos já lhe crescias galhos e folhas e tinha os cabelos emaranhados com pássaros. O sol resplandecia-lhe nos olhos abertos e isso bastava-lhe.

Sem comentários: