Rádio Minde - 107,3 Méguéertz
Carlos Paião abanava-se na televisão envergando trajes dignos de um astronauta acabado de chegar de outra galáxia, Vasco Granja dava seca á pequenada com as suas animações Checoslovacas de que ninguém gostava, as moças da época usavam chumaços nos ombros, fitas na testa e perneiras nas canelas. Os anos 80 fervilhavam nas pessoas.
Por todo o país proliferavam as rádios piratas e Minde, que nunca foi terra de se ficar e não acompanhar as tendências da moda, não era excepção. A Rádio Voz de Minde (ou seria Rádio Minde?) foi fruto da rebeldia tecnológica do Estrelinha e do Frazão e fez os delírios da população durante vários meses. As instalações da rádio eram nas antigas escolas, junto ao coreto, e a estrutura era tão velha e instável que tínhamos de andar com a leveza de uma bailarina para não provocar estremecimentos e a agulha não saltar dos vinis que rolavam no gira-discos. Não se podia saltar, correr, deixar cair objectos ao chão nem falar muito alto porque o isolamento da sala “no Ar” não era dos melhores. Esta sala tinha uma grande janela em vidro e um dos passatempos da mocidade da época era ir para a rádio “ver” fazer o programa e fazer caretas e passar mensagens em linguagem gestual aos locutores de serviço. Locutores havia muitos. Quase toda a população teve o seu programa de rádio. Mas o conteúdo dos programas era quase sempre o mesmo: música e passatempos. Assim de repente consigo recordar as “Noites pacificas”, uma imitação bastante menos glamourosa do Oceano Pacífico da RFM, do Hermínio Manha; a “Pole position”, programa sobre desportos motorizados, do Gilberto, João Paulo e Nuno Santos; O “Banco de Jardim”, programa dos Domingos á tarde do Pedro Xuca-Buca e que apostava no…Heavy Metal. “Bruxas no Sótão”, o programa infantil aos Sábados á tarde feito pelo Lecas, a Susana, o Rui da Eira e…imagine-se…eu própria, que sempre fui e sempre serei… gaga. O Carlos Alves tinha um programa de músicas antigas (antigas nos anos 80 eram musicas de 70s e 60s) de nome “Musicas do baú”. Música e passatempos era também o conteúdo do programa do Vedor e do Rui Pedro, o “Noites de Terça”.
O Rui da Eira era ainda autor do “Banhos de Lua” programa responsável por enlouquecer os ouvintes, pois oferecia excelentes prémios, do tipo viagens á Madeira, com o patrocínio de uma agência de viagens local, ao primeiro ouvinte que ligasse para a rádio a dar a resposta óbvia à pergunta do concurso (Do género: Como se chama a capela ao lado das instalações da rádio?). Eram muitos os ouvintes que, já se imaginando a cheirar Estrelícias e a comprar T-Shirts com a foto do Alberto João, tentavam desesperadamente ligar para a rádio. Mas esta era uma missão impossível pois a rádio não tinha telefone. Engraçadinhos os marotos, ãh?!
As horas certas na rádio também geravam sempre situações constrangedoras. Fruto da inexperiência dos locutores e do amadorismo que, no fundo, conferia à nossa rádio o estilo pitoresco que a caracterizava, a hora chegava sem que ninguém desse por isso e então não se dizia “São 20 horas!” mas sim “Há 4 minutos foram 20 horas!”. Lindo!
Num dia de desespero a Lei das Rádios veio considerar ilegais e encerrar centenas de rádios amadoras em todo o país. Foi o fim da Rádio Minde. O sonho acabou. Vai tudo para casa! Acabou a brincadeira, rapaziada! Querem divertir-se? Comprem uma cassete de vídeo com a Samanta Fox e tomem um duche! Esqueçam lá esta coisa da rádio.
1 comentário:
QUE SAUDADES DESSES BONS VELHOS TEMPOS ! !
AC
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