Não gosto de anos novos, nunca gostei.
Não gosto de passar de ano nem de passar de anos (entenda-se fazer anos, entrar num novo ano da minha existencia). Lembro-me de ser miúda e ficar acordada até muito tarde na noite da véspera dos meus anos, ou na noite da passagem de ano, a querer agarrar os últimos fiozinhos do ano que terminava.
Não tem nada a ver com não querer ser mais velha, ou não querer que o tempo passe, lembro-me de ter esta sensação mesmo quando tudo o que mais queriamos era ter depressa 18 anos (para votar, ver filmes para maiores de 18, tirar a carta...) ou vinte (para... sei lá, para ser "crescida"!).
Não gosto de anos novos porque desconfio deles.
Não gosto do seu ar sobranceiro, toda a gente cheia de esperanças, toda a gente a apostar imenso nele. Uma ano novo é um ser um bocado arrogante, porque tem a mania que vai mesmo resolver os problemas das pessoas, vai mesmo levar toda a gente ao ginásio e começar a poupar para a reforma e deixar de fumar e ter mais tempo para os filhos e ler mais livros e o diabo a nove... Pelo menos enquanto não lhe passam as peneiras do mês de Janeiro e começa tudo a voltar à normalidade.
Um ano velho é uma coisa confortavel, como um par de pantufas que já se fizeram ao nosso pé. Pode não ser muito bom, mas já nos fizemos a ele.
O ano novo é assustador, muito fresco, todo por estrear, ainda sem se saber se não vai ser ainda pior que o anterior...
Mas, por outro lado, há sempre o factor surpresa...
Não, não gosto de surpresas.
3 comentários:
Estou contigo...também não gosto. costumo chamar a isso o meu síndroma de 31 de Dezembro (nos anos essa angústia não bate tão forte). bjs
Olha, tem graça, achava que toda a gente me ia chamar velho do Restelo e que temos que olhar para o futuro com esperança e entusiásmo e que o melhor ano das nossas vidas é o que ainda está para vir e blá blá blá..., mas afinal há mais maniacodepressivas como eu...
Bom ano, vá, se não puder ser melhor, ao menos que seja só tão mau como este (ouvi isto agora na rua a uma senhora e achei que ela também tinha uma disposição parecida com a minha...)
Também concordo contigo. Um belo texto, querida amiga.
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