terça-feira, 13 de agosto de 2013

Joana Vasconcelos

Joana Vasconcelos impressiona.
Impressiona pela sua ousadia, imaginação, perícia e grandiosidade. As suas peças são mágicas e hipnotizam. Têm sempre mais a dizer-nos do que aquilo que observamos à primeira vista.
Gostei da exposição. Confirmo a grandiosidade da artista e percebo porque bateu recordes de visitas em Versalhes. As obras enquadram-se e fundem-se perfeitamente com o espaço onde são colocadas ou para o qual foram concebidas. O espaço tem, só por si, a sua magia e o peso da História que lhe está inerente, pois trata-se do Palácio Nacional da Ajuda, residência real nos finais do SÉC. XIX.
- Que peça ou instalação conceber para colocar aos pés da cama da rainha Maria Pia?
- O que se enquadra junto à fonte do Jardim de Inverno da família real?
Joana Vasconcelos soube dar estas respostas e deixa-nos sempre margem para um segundo olhar, uma outra interpretação, muito menos óbvia e linear do que nos possa parecer.

Variadíssimas peças de Bordalo pinheiro cobertas a crochet oriundo de vários pontos de Portugal, que me levam a pensar que, se Bordalo Pinheiro fosse vivo, estes 2 seriam certamente sócios...



 Abelha rainha, junto à cama da rainha Maria Pia.
A abelha rainha serve sobretudo para a reprodução, não tendo uma tarefa laboral especifica e vivendo sustentada pelo resto da colónia.


Duas Instalações no Jardim de Inverno, em perfeita harmonia com a fonte. Ferros a vapor que mexem, abrem, acendem luzes e fazem barulho, numa dança calma e ritmada. Os ferros têm água, humidade, vapores, mas, ao mesmo tempo, lembram  as tarefas domésticas femininas em muito facilitadas pelos electrodomésticos, contrastando com o ócio das damas da corte.
(Esta é só uma interpretação minha...)


Duas lagostas frente a frente, uma branca outra preta, como rei e a rainha, junto à mesa do banquete real. Lagosta: animal que simboliza uma alimentação de luxo, lento e inútil, quase sem actividade cerabral, com casca rija e cujos tentáculos astutos apanham alimento e o que os redeia...


Um automóvel cheio de brinquedos e bonecada e revestido a espingardas de plástico e LEDs. Como várias das obras da artista, esta é uma peça na qual o som , a luz e o movimento fazem farte da obra. Muitas vezes até o cheiro é parte integrante da composição. Uma forma muito simples e sábia esta de utilizar os sentidos para nos chegar às emoções.


Um peão feito de fios e brincos de plástico.


Marilyn, uma instalação feita com várias dezenas de tachos e tampas de vários tamanhos. O inox brilha em tons prateados, dando-nos a percepção de luxo e riqueza. A elegância do sapato é absoluta, mas na realidade são tachos e tampas...sempre associados ao quotidiano feminino e às lides domésticas.

Este coração Portugues emociona! Quando nos aproximamos da sala a sua imponencia impressiona e arrepia. A sala está cheia com os fados da Amália e este coração vermelho de sangue, feito a partir de talheres de plástico dobrados, roda lentamente, como uma fadista a rodopiar num palco.
"...povo que lavas no rio, que talhas com o teu machado as tábuas do meu caixão..."
Arrepia e quase que trás uma lágrima ao olho...

Um coração português feito de talheres. Quererá a artista dizer que a essência do português são os sabores do seu prato? Que Portugal é um país de sabores, disso não tenho dúvidas.


A Noiva é uma instalação feita de tampões OB, e mais não digo...



LIllicopter. Um helicopero decorado com plumas de avestruz e cristais Swarovski.



No final, algo que não é uma obra da Joana Vasconcelos, mas não deixa por isso se ser uma obra de arte: Um FRAPUCCINNO na Starbucks.


Impressionante também é a quantidade de estrangeirada que se desloca à Ajuda para ver esta exposição.
Se ainda não foi, ainda tem alguns dias (poucos!) para o fazer.

2 comentários:

ML disse...

melhor descrito não poderia!
é tudo isso

mindrica disse...

Após excelente descrição e a nossa conversa de ontem, acredita que fiquei muito curiosa e deve ser, na verdade, uma verdadeira surpresa cada trabalho...

Tenho de me meter na A1... ah pois e breve!