quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amélia, que bem que se está no campo! - Episódio #2

Descarregou a caixa de e-mails. Sessenta e três novas mensagens.
Rapidamente seleccionou e apagou as publicidades indesejadas, os mails de conhecidos que prometiam que se não reenviase para mais vinte pessoas lhe cairia um piano em cima assim que saísse à rua e as parvoíces cómicas que não estava com a mínima paciência para ler.
Sobravam dezassete. Cinco eram respostas de colegas e clientes acerca de assuntos em curso, mais uns quantos eram notificações de tribunais vários…
Sobrava só um. Contra todos os seus hábitos abriu o e-mail apesar de não saber de quem vinha. Imediatamente o monitor apresentou uma explosão de cores, do meio da qual sobressaía um Joker vestido de vermelho.
Bolas, pensou, é mais spam, já vou ficar com o computador cheio de vírus…
Lembrou-se penosamente da última vez que tinha recebido um e-mail infectado com um dos vírus da moda. Tinha gasto uma pipa de massa a limpar o computador e perdido vários documentos importantes, que lhe custaram muitas horas de trabalho a recuperar.
Ficou a olhar para o estúpido Joker com vontade de chorar. O que será que vai sair daqui…
Sem aviso o Joker desapareceu e os slides de uma apresentação em power point começaram a passar diante dos seu olhos distraídos. Madalena respirava fundo tentando controlar o ataque de fúria que sentia a subir-lhe pela gargante. Sem querer começou a ler as grandes letras vermelhas que passavam no ecram.

A SUA VIDA NÃO TEM SENTIDO.
PARECE-LHE QUE O MUNDO NÃO A COMPREENDE.
NADA PARECE ESTAR NO LUGAR PRÓPRIO.
NÃO TEM OBJECTIVOS, NÃO ASPIRA A NADA.
NÃO GOSTA DO LUGAR ONDE MORA.
O SEU TRABALHO NÃO A SATISFAZ.
O AMOR ABANDONOU-A PRA IR PROCURAR UM NOVO AMOR.
OS SEUS AMIGOS NÃO TÊM NADA A VER CONSIGO.
Sim, sim, pensou Madalena, mande esta mensagem a sete pessoas e sai-lhe já o euromilhões…
Mas não.
No ecram aparecia uma única última imagem.
ESPERE. TUDO VAI MUDAR.

Que é isto? Tenho que apanhar ar.
Saiu discretamente do seu gabinete pequeníssimo e sem janelas e subiu ao telhado do prédio.
Era um prédio antigo, sem elevador, com apenas quatro andares e umas águas furtadas por onde se saía para uma varanda muito pequena, com vasos de plantas secas, deixados pelo último habitante das águas furtadas.
Uma velha cadeira desconjuntada jazia a um canto e Madalena sentou-se e apoiou as pernas no varandim.
Tinha descoberto aquele local há algum tempo e mantinha-o em segredo, pois usava-o para fumar um cigarro e descansar longe dos colegas e do escritório.
Dali via-se uma nesga do Tejo e os telhados de Lisboa, cheios de terraços com roupa estendida, desfraldada ao vento.
Que raio vou fazer com a minha vida?...

5 comentários:

Calos disse...

Fabuloso amiga. Esta é mesmo a Madalena...
Agora é a minha vez...é isso?

Feridas disse...

Dá-lhe

Nelson Aguiar disse...

Estou ansioso pelo próximo capitulo! Fantástico!

wolfinho disse...

E eu ansioso pelo começo das filmagens.

Feridas disse...

Olha...
E porque não? Já que não conseguimos sair do impasse...