quarta-feira, 18 de maio de 2011

O LIVRO QUE EU ANDO A LER



O Clautro do Silêncio, de António Rosa, conta a hitória e as histórias do Mosteiro de Alcobaça.
Muito bem escrito, o autor faz-nos "ver" o que escreve. As referências à fundação do Mosteiro também nos interessam a nós e à nossa região: as terras doadas por D. Afonso Henriques aos monges de Cister chegavam a Alvados. Por outro lado as terras doadas aos templários e ao conde de Ourém chegavam quase às Moitas. Ou seja, Minde foi sempre um ermo esquecido por todos, uma zona de ninguém que servia de zona tampão entre todos estes senhores poderosos. Nunca pertencemos a ninguém, Minde nunca teve "Senhor", foi sempre o senhor de si próprio.
O livro tem-me feito pensar acerca de muitas coisas, estou a gostar muito. Aqui fica um excerto tirado da narrativa das invasões francesas e do rasto de destruição e morte que deixaram atrás de si:

"Pela porta do dormitório, ao alto do transepto, do lado do Evangelho (os frades), espreitavam os desmandos que iam pela nave, no desbragamento da baixeza, impotentes para suster a torrente do bacanal de destruição, pasmados por descobrir que o mais feroz e primitivo dos bichos é o homem, quando perde o travamento do siso e da razão, que o faz ser gente.
Foi assim, até que a noite caiu e o cansaço do excesso da insensatez atirou os franceses para um sono ressonado e suínico, espalhado pelos cantos da nave e pelas salas que rodeiam o Claustro do Silêncio. Aquela nave tinha assistido, ao longo dos séculos, às mais desencontradas cenas de desmando e ao desregramento de actos transtornados. Não foram só os mentecaptos loucos, ensandecidos por jejuns e clausura, trazendo para a consciêcia todos os temores dos muitos infernos que lhes haviam incutido, traduzidos em desesperos e pedidos de perdão ao Deus longínquo do céu e ao enevoado destrambelho das suas almas. Nem tampouco importou aos desgraçados em desespero do temor da justiça medieval do abade, inexoravel no rigor milimétrico
(...). E mais que todas as loucuras, a de Pedro, o Rei Justiceiro, que ali jazia, excessivo nas iras e nos amores, demoníaco nas suas cóleras, até não conseguir articular palavra(...). Louco até trazer para ali a sua rainha cadáver e obrigar todos a beijar-lhe a mão gelada pela morte. A tudo assistira a nave de Alcobaça."

1 comentário:

Calos disse...

O tema agrada-me...
Parece bom. Quanto mede a lombada?