segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Foram comigo para a cama

O tema 2ª Guerra Mundial fascina-me. Gosto sobretudo daquelas histórias que estão para além dos relatos simplistas dos livros de história. Gosto de descobrir factos menos "comerciais", relatos pessoais ou situações individuais do quotidiano de quem viveu aquele período na primeira pessoa.
Já li vários livros sobre o tema: "A Sétima Porta" de Richard Zimmler, "O Inverno do mundo" de Ken Follet, "Memórias da 2ª Guerra" de Churchill, "O Leitor" de Schlink , "O Rapaz do Pijama às Riscas", "A Lista de Schindler", "O Pianista", um do Primo Levi que agora não me lembra o nome...,
mas os 2 últimos que li tocaram-me particularmente: "A Montanha de Hitler" e o "Cerco de Leninegrado".


O primeiro é um relato na primeira pessoa de uma criança nascida e criada em Obersalzberg na Baviera onde Hitler tinha o seu quartel general, Berghof e nas montanhas do Ninho da Águia. Uma guerra tem sempre 2 lados e para as famílias alemãs humildes também não foi fácil.
Não há relatos de atrocidades como a que estamos habituados a ler nos livros que nos falam sobre o holocausto mas há miséria, fome e imposições permanentes, tanto a nível ideológico como físico. Como se sabe, a elite nazi não partilhava das mesmas dificuldades que o povo alemão e, somos confrontados, aqui nesta leitura, com toda a propaganda nazi impingida por Hitler e pelas dificuldades reais passadas pelo povo que, ocultado da verdade, tentava sobreviver.


O outro:
Há muito que queria saber mais sobre o cerco militar a Leninegrado, levado a cabo pelas tropas nazis de 1941 a 1944, destinada a matar a cidade pela fome, mas por muito que a nossa imaginação seja fértil e dramatize os mais macabros cenários, nunca, mas nunca, seremos capazes de realizar o que foram aqueles quase 900 dias de cerco para quem tentou sobreviver sem comida e com temperaturas de -30º. Morreram mais de um milhão de civis, numa cidade com 2,5 milhões de habitantes. Os testemunhos e relatos vão para além dos mais tenebrosos filmes de terror e expõem casos nos quais qualquer réstia de humanidade se perde. O desespero levava as pessoas a comerem gatos, cães, cavalos, cintos de cabedal, papel de parede, livros, cola de carpinteiro que raspavam dos móveis antes de os queimar para se aquecerem, depois...corpos moribundos, e até crianças...
A cidade passou a ser habitada por espectros, zombies, e quem tombava na neve ou nas filas intermináveis para conseguir 100 gramas de pão, estava condenado, pois ninguém tinha força suficiente para os erguer do chão. Ajudar alguém poderia representar a sua própria morte. Ninguém levantava os moribundos do chão, só para lhes amputar partes do corpo e comer...
As famílias eram ceifadas e os mortos deixados na rua pois ninguém tinha forças para os enterrar ou levar à morgue. Já não haviam caixões pois a madeira era um bem precioso para comer ou para queimar. Mesmo as escassas doses de pão que eram distribuídas era pão de composição duvidosa, no qual era misturado areia, serradura,...

Pensava eu que este auge de horror era único na história da URSS quando a minha Maryna, ao ver o livro na minha mesa de cabeceira, me diz que o cerco a Leninegrado não foi nada quando comparado com a Grande Fome na Ucrânia, razão da morte dos seus avós maternos. Fui investigar...
HOLODOMOR. A palavra não nos diz nada...mas representa a grande fome de carácter genocidário provocada por Estaline (esse filho da puta!) como represálias às insurgencias dos camponeses, que eram quase a totalidade do povo, contra a colectivização da agricultura, ou seja, a apropriação pelo Estado soviético da totalidade das terras, colheitas, gado e alfaias pertencentes aos camponeses. Não se sabe quantos morreram mas fala-se em 4 milhões, 5, 6, 7 milhões...
A vida dá voltas e passados só 8 anos, as ironias do destino fizeram com que fosse o povo de Estaline novamente vítima da fome fatal mas, desta vez, provocada pelo inimigo.
Ttttssss...as coisas que vocês aprendem comigo!...e que eu aprendo com a minha Maryna... :-)

Quem tiver coragem pode ver...

https://www.youtube.com/watch?v=svmAZEywtro

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