sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

OS VERDADEIROS CROMOS, PARTE II


O HEROI
Sei pouco acerca do Heroi.
Lembro-me que era trabalhador da Junta (não era?...)
A imagem mais nítida que tenho dele é dos desfiles de carnaval que se fizeram em Minde durante alguns anos, em que ele, digníssimo, encabeçava o cortejo, vestido de Rei do Carnaval. E todos os carnavais que se seguiram ele continuava sempre a desfilar de Rei do Carnaval, ainda que desfilasse sózinho, o cortejo era só ele. Tinha uma corneta de plástico e um chapéu cómico e vivia feliz, pelo menos do dia de carnaval...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A SAGA DO AÇUCAR

Está-me quase a dar um xlique!
Então não é que o Natal está mesmo aí e NÃO HÁ AÇUCAR EM LADO NENHUM!!!!
E os meus sonhos e as minhas rabanadas, e a minha torta recheada com doce de ovos, que é coisa para levar praí 750 gr de açucar? E os mexidos, que são o único motivo pelo qual o Henrique me visita no Natal?
E de quem é a culpa desta euforia colectiva que deu em toda a gente?
É do Telejornal.
Foi só aparecer uma notícia a dizer que os stocks estavam com problemas que toda a gente se passou da marmita e desatou a comprar açucar como se não huvesse amanhã.
Calma, minha gente, eu sei que ainda está no imaginário colectivo os tempos do racionamento, em que se compravam cartuxinhos de 125 gr de açucar, mas, bolas, não estamos sob ameaça de guerra, ainda não vem aí a fome!
Sabem o que lhes vais contecer, a vós, pobres insanos, que comprasteis aos 10 e aos 20 kgs de açucar de forma frenética no domingo de manhã?
Vai-se estragar.
Quando derem por ela está todo em pedra, porque não há maneira de conseguirem consumir quantidades tão disparatadas de açucar sem ficarem ceguinhos de diabetes.
Não sejam lambareiros, deixem açucar para os vizinhos, que toda a gente tem direito a uma filhó na consoada.
Xiça, que até estou a ficar azeda com a conversa!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Morre lentamente...

"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!”
Pablo Neruda

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

OS VERDADEIROS CROMOS, PARTE I



O CHANCEMAN
O cavalo de ferro.
O picha de aço (ou, noutra variante, o picha de aço das mulheres casadas).
Estes eram alguns dos epítetos que o Chanceman… se atribuía a si próprio.
Escolhi este para ser o primeiro d’ Os Verdadeiros Cromos porque o Chanceman me diz muito. Mais à frente já explico porquê.
Pois o Chanceman era um tipo enorme (também é dele a autoria da frase “um homem só é homem a partir dos 100 kgs”). Não gosto de dizer que tinha perturbações mentais, prefiro dizer que tinha uma pancada sem limites.
O Chanceman (não lhe posso chamar outro nome senão este, porque não faço a mínima ideia de como se chamava. Alguém aí fora sabe?) passava a vida à boleia entre Minde e Mira de Aire, ou para qualquer outra localidade das redondezas, como é próprio de quem não tem mais nada que fazer. Ele ia para onde o carro o levasse.
Conta que quando um carro parava para lhe dar boleia perguntava sempre “Tem aparelhagem? “, “É Pioneer?” Se o carro não tivesse aparelhagem ou não fosse Pioneer já não ia, mesmo que o simpático condutor estivesse na disposição de o levar.
Uma vez comprou uma bicicleta em Mira de Aire. Vinha inchadíssimo pela estrada fora, a fazer malabarismos à frente dos carros e não deixava ninguém passar. Por azar vinha atrás dele o Sr. Artur das bombas que tinha um carro com o volante do lado direito. Deitou-lhe a mão e derrubou-o. O Chanceman não foi de modas, partiu o vidro do carro, largou a bicicleta e desatou a fugir mata fora. A bicicleta nunca chegou a vir a Minde.
Um dos seus entreténs favoritos era vir para o centro de Minde às 6 horas quando as raparigas da fábrica esperavam as camionetas. Como afirmava que corria mais que os carros, para exibir a sua masculinidade, corria que nem louco à frente de qualquer carro que fosse a passar. Claro que corria sempre mais do que eles, porque corria pela estrada e não os deixava passar.
Mas a parte em que a minha vida e a do Chanceman se cruzam andará aí por 1985/86, tinha eu 15 ou 16 anos. Era na altura em que ele costumava andar com um casaco assertoado com botões dourados e um boné à capitão de navio. Quem não soubesse o que ali estava acreditaria que era um lord inglês em férias em Monte Carlo!
Pois o bom do Chanceman lá me achou piada e um belo dia decidiu ir pedir-me em casamento ao meu pai.
Foi o meu pai que me contou isto, perdido de riso. Parece que ele lhe foi dizer “gosto muito da sua filha. É muito jeitosinha, mas um bocadinho arisca!”
Pudera, eu fugia dele como o diabo da cruz!
O meu pai lá aguentou o riso como pode e respondeu-lhe que sim senhor, me deixava casar com ele, mas que eu ainda era muito nova. Felizmente foi internado e nunca mais voltou, senão ainda se lembrava de vir cobrar a promessa!

domingo, 12 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

JÁ AGORA, LEVAM O RESTO...

"Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o unico ódio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse."
Leasing, factoring, outsourcing, hardware, software, stakeholder, Iphone, site, internet, mail, download, upload, upgrade, drive, pendrive, motherboard, post, timeshare, fashion, enter, print...

"A minha pátria é a língua portuguesa".
Fernando Pessoa

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

MULTIMÉDIA MINDE - Parte II

Rádio Minde - 107,3 Méguéertz

Carlos Paião abanava-se na televisão envergando trajes dignos de um astronauta acabado de chegar de outra galáxia, Vasco Granja dava seca á pequenada com as suas animações Checoslovacas de que ninguém gostava, as moças da época usavam chumaços nos ombros, fitas na testa e perneiras nas canelas. Os anos 80 fervilhavam nas pessoas.
Por todo o país proliferavam as rádios piratas e Minde, que nunca foi terra de se ficar e não acompanhar as tendências da moda, não era excepção. A Rádio Voz de Minde (ou seria Rádio Minde?) foi fruto da rebeldia tecnológica do Estrelinha e do Frazão e fez os delírios da população durante vários meses. As instalações da rádio eram nas antigas escolas, junto ao coreto, e a estrutura era tão velha e instável que tínhamos de andar com a leveza de uma bailarina para não provocar estremecimentos e a agulha não saltar dos vinis que rolavam no gira-discos. Não se podia saltar, correr, deixar cair objectos ao chão nem falar muito alto porque o isolamento da sala “no Ar” não era dos melhores. Esta sala tinha uma grande janela em vidro e um dos passatempos da mocidade da época era ir para a rádio “ver” fazer o programa e fazer caretas e passar mensagens em linguagem gestual aos locutores de serviço. Locutores havia muitos. Quase toda a população teve o seu programa de rádio. Mas o conteúdo dos programas era quase sempre o mesmo: música e passatempos. Assim de repente consigo recordar as “Noites pacificas”, uma imitação bastante menos glamourosa do Oceano Pacífico da RFM, do Hermínio Manha; a “Pole position”, programa sobre desportos motorizados, do Gilberto, João Paulo e Nuno Santos; O “Banco de Jardim”, programa dos Domingos á tarde do Pedro Xuca-Buca e que apostava no…Heavy Metal. “Bruxas no Sótão”, o programa infantil aos Sábados á tarde feito pelo Lecas, a Susana, o Rui da Eira e…imagine-se…eu própria, que sempre fui e sempre serei… gaga. O Carlos Alves tinha um programa de músicas antigas (antigas nos anos 80 eram musicas de 70s e 60s) de nome “Musicas do baú”. Música e passatempos era também o conteúdo do programa do Vedor e do Rui Pedro, o “Noites de Terça”.
O Rui da Eira era ainda autor do “Banhos de Lua” programa responsável por enlouquecer os ouvintes, pois oferecia excelentes prémios, do tipo viagens á Madeira, com o patrocínio de uma agência de viagens local, ao primeiro ouvinte que ligasse para a rádio a dar a resposta óbvia à pergunta do concurso (Do género: Como se chama a capela ao lado das instalações da rádio?). Eram muitos os ouvintes que, já se imaginando a cheirar Estrelícias e a comprar T-Shirts com a foto do Alberto João, tentavam desesperadamente ligar para a rádio. Mas esta era uma missão impossível pois a rádio não tinha telefone. Engraçadinhos os marotos, ãh?!

As horas certas na rádio também geravam sempre situações constrangedoras. Fruto da inexperiência dos locutores e do amadorismo que, no fundo, conferia à nossa rádio o estilo pitoresco que a caracterizava, a hora chegava sem que ninguém desse por isso e então não se dizia “São 20 horas!” mas sim “Há 4 minutos foram 20 horas!”. Lindo!

Num dia de desespero a Lei das Rádios veio considerar ilegais e encerrar centenas de rádios amadoras em todo o país. Foi o fim da Rádio Minde. O sonho acabou. Vai tudo para casa! Acabou a brincadeira, rapaziada! Querem divertir-se? Comprem uma cassete de vídeo com a Samanta Fox e tomem um duche! Esqueçam lá esta coisa da rádio.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

LISTA DE INFRAESTRUTURAS...

...sensíveis que, caso sejam atacadas, podem ter impacto negativo na segurança do Ninhou:
- O Bália;
- O bar dos bombeiros;
- O João d'Alqueidão (assim com apóstrofo se vê como é um lugar fino);
- O Estaminé;
- O barraco;
- O Europa.
(O Bigode de Seda já fechou, senão também integrava a lista).
PS - Toma lá Wikileaks, não és mais cós outros. E agora quero ver se alguém me vem processar...
PPS - O que será uma infraestrutura sensível? Será uma infraestrutura que ouve Chopin e derrama uma lágrima quando vê o programa da Fátima Lopes?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Há dias assim. Nunca vos acontece?


Hoje não estou bem. Não, também não estou mal, nem me dói nada, estou só … diferente. Não estou o meu “eu” habitual. Nunca vos acontece? Acordar pela manhã e querer ver outra pessoa no espelho, querer ter outro guarda roupa, morar num país onde o frio também nos brinde com a neve, ter outro carro, outro trabalho, conhecer outras pessoas…
Comer outras comidas, cheirar outros cheiros, ter outras conversas...

Como seria hoje a minha vida se eu, pelos meus longínquos e loucos vinte anos, tivesse ido fazer ERASMOS na Suécia e tivesse conhecido um nórdico loiro, alto, lindo e inteligente e por lá tivesse ficado? Ou se eu tivesse ido fazer estágio para a Jamaica e lá abrisse um bar na praia com um sócio alto, lindo, inteligente e de rastas? Ou se me juntasse num daqueles grupos de missionários que partem para África com o simples intuito de fazer o bem e tivesse um caso escaldante com o médico da missão, que por acaso era alto, moreno, lindo e inteligente?
Não liguem, hoje estou assim.

MULTIMÉDIA MINDE - PARTE I





Quem acha que a TV Minde é coisa moderna e actual, engana-se. Minde Já teve uma TV, uma autentica e muito anos 80 TV pirata.
Diz quem sabe que a TV era emitida da zona da avenida, mais concretamente da casa do proprietário, que era perto do antigo posto médico, o Sr. Fernando Vedor. Só se apanhava ali nas redondezas mas com uma imagem e som bastante razoáveis.
Não tinha programas próprios, emitia só filmes.
Aliás o proprietário emitia com frequência pedidos de apoio em verbas para ajudar a sustentar os custos da emissão – é que o aluguer dos filmes no clube de vídeo para transmitir gratuitamente era coisa para “arrebentar” com um orçamento…
As emissões eram feitas às sextas e sábados depois da meia noite, com uma grelha de programação da categoria de bolinha no canto do ecran e aos domingos à tarde, com um conteúdo mais familiar.
Consta que num domingo à tarde, estava muito boa família a assistir no recato do lar ao clássico Bem Hur, aconteceu o inevitável quando se trabalha com falta de meios e não há dinheiro sequer para pagar a uma notadora que tome conta destas coisas- como o filme era muito longo (toda a gente sabe que aquilo é estucha para algumas 4 horas) estava em duas cassetes de vídeo. Acabada a primeira cassete, a família aproveita para ir fazer um xixi e ir buscar umas bolachinhas à cozinha. Qual não o espanto do pai, o horror da mãe e o gáudio dos filhos adolescentes, quando alguém do outro lado da antena se engana e, em vez de colocar a segunda cassete do Bem Hur, coloca uma cassete de um filme pornográfico!
Não sei se foi de propósito, mas que foi muito bem apanhada, foi…